No Cerrado goiano, região estratégica para o agronegócio brasileiro, uma pequena semente tem ganhado cada vez mais espaço nas pesquisas, o Gergelim (Sesamum indicum L.). Conhecido por seu alto valor nutricional e potencial produtivo, o grão está sendo estudado como cultura de sucessão à soja, servindo para a diversificação agrícola e a sustentabilidade dos sistemas de produção nessa região, onde predominam solos ácidos, pobres em nutrientes e suscetíveis à compactação. E para enfrentar essas limitações, acadêmicos da Faculdade de Agronomia e do Mestrado em Produção Vegetal da Universidade de Rio Verde, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Veridiana Cardozo Gonçalves Cantão têm conduzido pesquisas aplicadas sobre as melhorias no solo e desempenho do Gergelim em sucessão à soja.
“Esses estudos visam encontrar maneiras de aprimorar as propriedades do solo após o cultivo da soja, uma cultura já consolidada na região, e preparar as condições ideais para o plantio subsequente do Gergelim. Um dos principais focos de investigação é o uso de micronutrientes, como o zinco, em combinação com substâncias húmicas, compostos orgânicos que melhoram a estrutura do solo, aumentam a retenção de água e nutrientes e ajudam a reduzir sua compactação,” explica a Professora.
De acordo com a Veridiana, uma das pesquisas, fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com o tema “A adição de substâncias húmicas ao solo deve elevar os teores de matéria orgânica e a CTC, além de favorecer a retenção de nutrientes, como o zinco. Espera-se também que sua aplicação reduza a compactação superficial e melhore a estrutura física do solo" tem embasado os estudos para comprovação da eficácia de soluções sustentáveis.
A Docente conta ainda que a crescente busca por alternativas mais sustentáveis na agricultura tem dado espaço para as pesquisas sobre o uso de bioinsumos. “Os bioinsumos estão ganhando cada vez mais destaque, entre eles, os microrganismos solubilizadores de fosfato se sobressaem por sua capacidade de liberar nutrientes presos no solo, tornando-os acessíveis às plantas. Temos pesquisas conduzidas por estudantes de pós-graduação investigam o efeito residual desses microrganismos. A proposta é simples e promissora: aplicar os microrganismos na cultura da soja e, sem nova aplicação, observar seus efeitos no desenvolvimento do Gergelim cultivado em seguida,” explica.
Nesse estudo, segundo ela, o tema "Espera-se que a inoculação com MSP, especialmente em combinação com fertilizantes organominerais, aumente a disponibilidade de N no solo, promova maior atividade enzimática e beneficie a nutrição e produtividade do gergelim" é desenvolvido no Mestrado em Produção Vegetal.
Veridiana completa falando que outros estudos investigam diferentes tipos de fertilizantes fosfatados, buscando compreender quais se combinam melhor com os microrganismos para utilizar o fósforo de forma mais eficiente, reduzir perdas e aumentar a produtividade. E o tema "Espera-se que a associação Bacillus + fosfato organomineral aumente em ≥20% a disponibilidade de P no solo após a colheita da soja, com incrementos de produtividade ≥15% no gergelim cultivado em sucessão" tem sido desenvolvido no Doutorado em Produção Vegetal junto à Rede de pesquisa AGROBIOTEC.
“Os estudos estão progredindo na investigação de diferentes combinações de fontes de fósforo e consórcios de microrganismos, avaliando não apenas os ganhos em produtividade e nutrição das plantas, mas também os custos e a viabilidade econômica para o agricultor. Esses temas têm sido aprofundados em trabalhos de Iniciação Científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, com foco na fertilidade e saúde do solo, sustentabilidade ambiental e econômica para produtores, produtividade das culturas e segurança alimentar. Essas investigações ajudam a preencher lacunas importantes no manejo de áreas cultivadas em solos tropicais,” reforça a Professora.
Sobre o uso dos bioinsumos, a Docente compartilha ainda que, as condições enfrentadas em Rio Verde não são exclusivas da região. Os Latossolos também estão presentes em muitos outros estados do Brasil, como Rio Grande do Sul, Maranhão, Tocantins, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e enfrentam os mesmos desafios de acidez, baixa fertilidade e compactação. “Os resultados dessas pesquisas têm aplicabilidade tanto nacional quanto internacional, especialmente em regiões de clima tropical e agricultura intensiva. As pesquisas sobre gergelim e sistemas de sucessão vão além dos avanços técnicos. Elas demonstram como o conhecimento, quando compartilhado e aplicado de forma eficaz, pode transformar realidades. Da sala de aula ao campo, do laboratório à lavoura, a ciência avança, e é por meio dela que se constroem futuros mais sustentáveis, produtivos e justos para todos,” finaliza Veridiana.
Equipe Ascom UniRV
Jornalista: Vanderli Silvestre - CRP 4126/GO
Fotos: Marcos Santos