As mudanças climáticas têm gerado impactos profundos na agricultura do Cerrado, uma das regiões mais produtivas do Brasil. Oscilações climáticas extremas, como as causadas pelos fenômenos El Niño e La Niña, têm alterado a disponibilidade de água no solo, comprometendo a segurança hídrica e a viabilidade de cultivos como a soja e o milho, especialmente em sistemas de sucessão.
Um estudo conduzido por Ghabriel Miranda Campos, aluno do Mestrado em Produção Vegetal, sob orientação do professor Dr. Gilmar Oliveira Santos, analisou diferentes cenários agrícolas no Cerrado com base no balanço hídrico climatológico. O levantamento considerou variações de temperatura (+1°C a +4°C), redução de 10% na precipitação, tipos de solo (arenoso e argiloso), além de datas estratégicas de semeadura.
O trabalho aponta que o aumento das temperaturas impacta diretamente na janela ideal de plantio. A partir de um aumento superior a 1°C, a janela se reduz consideravelmente, e em cenários de aquecimento acima de 3°C, o cultivo do milho em sucessão torna-se praticamente inviável devido à acentuada escassez de água no solo e à queda do Índice de Satisfação por Necessidade de Água (ISNA).
Em meio às adversidades climáticas, o tipo de solo demonstrou ser um fator crítico. Os solos argilosos, por sua maior capacidade de retenção de água, apresentaram desempenho superior, especialmente sob condições de maior temperatura e menor precipitação. Já os solos arenosos, associados a episódios de La Niña, mostraram déficits hídricos mais significativos.
Segundo Gilmar, o estudo revela que, apesar da crença comum, os períodos de La Niña apresentaram maior segurança hídrica em comparação ao El Niño, com déficits mais moderados durante o cultivo da soja e do milho, e isso indica que os impactos climáticos variam conforme a cultura, o solo e a época do plantio. “Períodos com influência do fenômeno La Niña, observamos uma maior segurança hídrica, com déficit hídrico moderado durante o cultivo de soja e milho em sucessão, em relação aos períodos com influência de El Niño,“ afirma.
O professor completa também que a escolha do momento certo para o plantio é outro fator determinante. “A soja tem melhores condições entre 25 de outubro e 10 de novembro, enquanto o milho, cultivado em sucessão, deve ser semeado até 20 de fevereiro. No entanto, em anos com El Niño, o plantio da soja tende a ter melhores resultados apenas após 10 de novembro,“ comenta.
Gilmar conta que desde a década de 1990, as deficiências hídricas têm prejudicado cada vez mais a produtividade no Cerrado, e que o estudo alerta para a necessidade urgente de medidas adaptativas, como o manejo do solo com palhada, uso de variedades tolerantes à seca, irrigação racional e readequação das janelas de plantio. Além disso, o monitoramento climático e a adoção de práticas sustentáveis devem ser integrados a políticas públicas e programas de extensão rural. “Essas ações são fundamentais para preservar a sustentabilidade do agronegócio frente ao avanço das mudanças climáticas,” finaliza Gilmar.
Equipe Ascom UniRV
Jornalista Vanderli Silvestre - CRP 4126/GO
Arte: Vinicius Macedo