A modernidade, com seu ritmo acelerado, tecnologia e mudanças sociais, transformou o tempo em um bem precioso. Em um mundo marcado por comparações, cobranças constantes e pressões por desempenho, as pessoas enfrentam desafios psicológicos cada vez mais intensos.
Entre os fenômenos mais comuns está a Síndrome do Burnout, também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional, que passou a ser considerada uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2022. Resultante do estresse crônico, este transtorno se desenvolve aos poucos, e é causado por irregularidades entre o trabalho e o indivíduo, como carga horária excessiva, falta de reconhecimento, cansaço profundo, acúmulo de responsabilidades, entre outros.
De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), em 2023, aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofriam com a síndrome de burnout. Atualmente, o Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo.
Alguns dos sintomas mais comuns são distúrbios do sono, alterações no apetite, dores de cabeça frequentes, problemas gastrointestinais, alterações cardiovasculares, como pressão alta e batimentos cardíacos acelerados e queda da imunidade. Estes foram os sinais de alerta que levaram Laura Freitas, Relações Públicas, a ver com outros olhos sua rotina de trabalho.
Mesmo apaixonada pela profissão, ela percebeu que sua saúde deveria vir em primeiro lugar. “Demorei para entender que era burnout. Hoje consigo olhar para trás com mais tranquilidade, com mais respeito por tudo que passei, e consigo entender que meu corpo já dava sinais há muito tempo. Hoje percebo que eu estava mentalmente muito cansada há muitos meses. Não conseguia descansar mesmo após longas noites de sono, sentia que meu corpo estava sempre carregado, especialmente no local de trabalho. Comecei a entender que era a rotina profissional que me causava tudo isso após uma crise de pânico no escritório, quando precisei ser levada ao hospital. Após esse episódio observei que me sentia ansiosa sempre que estava no trabalho”, compartilha Laura.
Após o diagnóstico, Laura saiu do trabalho e adaptou sua rotina para um ritmo mais tranquilo, dedicando seu tempo a projetos que sempre manteve “em espera”, como criar um programa de podcast e se dedicar à prática esportiva, uma de suas maiores paixões. “Lido com o diagnóstico com muita terapia, muito autoconhecimento e respeito aos meus processos. Mesmo com relação aos novos projetos precisei dar uma desacelerada, pois meu cérebro estava entendendo aquilo como trabalho e descobri sintomas que surgem após o burnout, como uma forma de o cérebro nos proteger para que não cheguemos ao ponto crítico que já estivemos um dia”, esclarece.
Com as redes sociais transmitindo um fluxo constante de conquistas alheias, projetos publicados, aprovações em seleções e vidas aparentemente perfeitas, as pessoas são levadas a se comparar continuamente, o que acarreta ansiedade e a sensação constante de insuficiência, especialmente nos âmbitos profissionais e acadêmicos.
Essa ansiedade se agrava pela ilusão da produtividade infinita: a ilusão de que é possível e necessário estar sempre ocupado, sempre aprendendo, sempre produzindo. Muitos estudantes internalizam essa lógica, transformando a produtividade em identidade, se sentindo culpados quando não estão produzindo.
Estudante do Programa de Pós-Graduação de Doutorado em Química (UFG), Bianca Gonçalves, compartilha que a pressão dos estudos muitas vezes desencadeia crises de ansiedade. “A ansiedade afeta diretamente meus estudos, especialmente quando tenho alguma prova ou algum trabalho importante para apresentar. É como se todo o preparo desaparecesse diante da pressão, nos momentos de apresentação fico tão ansiosa pra terminar logo, que na maioria das vezes acabo falando muito rápido, mesmo tendo treinamento diversas vezes. Em provas a ansiedade toma conta e bloqueia minha linha de raciocínio. Geralmente antes desses eventos aparecem os sintomas físicos da ansiedade, fico nervosa, tremendo e com sensação de falta de ar”, comenta.
Diante da rotina que exige tanto, a acadêmica aprendeu a desenvolver técnicas para lidar com estes momentos delicados e também busca ajuda adequada. “O que tento fazer é respirar fundo pra tentar me acalmar, o que as vezes ajuda e quando a ansiedade está muito forte tento me distrair com coisas que me afastem dos pensamentos acadêmicos como ver uma série, isso me ajuda a recuperar a tranquilidade. Não sei lidar muito bem com a ansiedade e já percebi que isso impacta no meu rendimento acadêmico e por isso estou buscando ajuda profissional”, compartilha Bianca.
Diante desse cenário, surge a necessidade de repensar a forma como as rotinas de estudo e trabalho são organizadas. Práticas como o autocuidado, regulação emocional e manejo do tempo precisam ser incorporadas às rotinas acadêmicas.
O reitor, Professor Dr. Alberto Barella Netto, reafirma o compromisso da UniRV em manter a instituição como um espaço seguro aos acadêmicos durante a jornada estudantil. “Reconhecemos que a saúde mental desempenha um papel fundamental no rendimento de nossos acadêmicos e futuros profissionais. Pensando nisso, a Universidade de Rio Verde oferece apoio psicológico emergencial gratuito aos estudantes que estejam enfrentando algum tipo de sofrimento mental ou passando por alguma situação de crise. Nosso objetivo é cuidar de cada um para que aproveitem a experiência universitária e se tornem profissionais capazes de lidar com a pressão e competitividade do mercado”, declara.
Equipe ASCOM
Jornalista Ana Júlia Sales
Arte: Eduardo Thomaz